Evento mensal é realizado pela equipe Geração Underground e
reúne artistas do Hip Hop
A equipe Geração Underground realizou neste domingo, dia 11
de maio de 2014, uma nova edição do Projeto “Aqui Tem Grupos Ensaiando” que
reúne artistas da cultura hip hop de Campinas e região. É um ensaio aberto,
feito na rua João Sigrist (Rua do Rap), no Eixo Santos Dumont, região Sudoeste
de Campinas. O encontro começou por volta de 16 horas e seguiu noite adentro. É
uma iniciativa independente da Equipe Geração Underground, formado por artistas
e apoiadores da cultura hip hop que não se acomodaram em reclamar da falta de
espaços para sua expressão cultural. O evento é justamente para propiciar
estrutura e ambiente para que os grupos e demais artistas do rap e do hip hop
em geral possam ensaiar e desenvolver assim seu trabalho. Além do “Aqui Tem
Grupos Ensaiando” a Geração Underground também promove, com apoio da Secretaria
da Cultura de Campinas, o “Fazendo Arte no Parque. São dois eventos mensais e
com entrada gratuita.
O rapper Wu, que também é produtor, afirmou que participava
do encontro pela primeira vez. “Estou conhecendo agora. Da geração Underground
eu conheço o Sinistro (rapper) há uns
vinte anos. Esta é uma iniciativa de valor”, definiu. Ele considera que uma
opção cultural e que trouxe para ver o resultado a sua mãe, a dona Silvana dos
Santos e a namorada Sandra Pineiro. Wu também classifica o “Aqui Tem Grupos
Ensaiando” como mais que uma luz no fim do túnel, mas uma oportunidade já consolidada de
encontro entre os diferentes artistas, possibilidade de intercâmbio “não só
musicalmente, mas de vivência intensa”, em suas próprias palavras.
Além de rapper ele é produtor e destaca que é justamente no
produto final – a gravação – que a diferença para melhor se destaca. “Sou
produtor, rapper, letrista, beat maker”.
“Eu, sendo um músico participo de vários processos do trabalho de um grupo ou
artista solo”, afirma. Para ele, o fato reflete-se em maior profundidade no
trabalho com os rappers e grupos. “Eu posso ajudar no flow, no jeito de levar a música justamente por também ser um
músico do rap. Questionado sobre a cena do rap em geral ele considera que há
uma tendência de a arte se tornar mais popular, por estar na TV e outras mídias
que têm interesse nesta expressão cultural justamente pela repercussão. Mas ele
destaca que esta exposição se difere do ativismo porque este, em sua opinião,
exceto por iniciativas como da Geração Underground, está em decadência frente
ao individualismo de artistas como 50 Cent (norte-americano), entre outros, que
apesar de popularizar a música, acabam direcionando esta arte para caminhos de
megaestrelado e mainstrean. “O que
não é legal”, resume.Também cita os “rappers vagalume”, em alusão ao grupo Pollo
que fez sucesso em rádio com uma música tema de novela: “Vou casar mais de um
milhão de vagalumes por aí”. Para ele, isso não é rap.
“Faço música com qualidade e quero
ser ouvido com qualidade. Tem cara que começou no gueto e já está pra lista da
Forbes como os mais ricos do mundo”, cita. Perguntado sobre o que tem ouvido
ele é taxativo: “Tenho ouvido poucas coisas novas, mas cita Primeiramente
Síntese e Primeiramente. “Não dá para cantar festa se não é a realidade do povo”,
argumenta. “Hoje tenho um homestudio”, conta.
E diz que é relativamente fácil alguém fazer uma base, colocar a voz em cima e
dizer que é rap. Também completa que tem ouvido Tupac,
Big, Naughty by Nature, Isaac Reis, Ângela Maria, Elis Regina e
Djavan. “Dentro do rap eu respeito Sabotage e Gog, por exemplo”, afirma. E
acrescenta: “Jay Z é um cara excepcional. “As pessoas, às vezes enxergam as
coisas distorcidas. O cara está ganhando dinheiro, mas não dá para falar que
ele não está colaborando com a cultura”. Já com 50 cents ele é taxativo: “É uma
coisa fabricada”. Para Wo o “rap é o mundo é o mundo que tem que estar
preparado para o rap. Já está no hall da música nacional. Rap é fundamento.
Tudo mudou, mas meu, estás tudo mudando. Se o rap hoje é tão popular sem fazer
estrago a minha cara é ser a voz de todos os que estão calados. O importante é
a vida das pessoas. O rap é para pensar e não para curtir por cinco minutos
como uma coisa sem impacto”, finaliza.
O grupo Jovem Máfia também deu entrevista ao blogue.
Começaram destacando a “ótima iniciativa” da equipe Geração Underground em
promover eventos como o Aqui Tem Grupos Ensaiando e Fazendo Arte no Parque. “Eventos
como estes acabam trazendo incentivo até para não ir ao rumo errado. Às vezes a
pessoa tem o talento de escrever a letra mas aquilo acaba morrendo num caderno
fechado”, disse W. MC. Ele faz parceria há três anos com Dedel e disse que
desde criança gosta de poesia. “Somos parceiros nas rimas”, comentou. W. MC
nasceu na Bahia, no interior do Estado, na cidade de Milagres, quando mudou-se
para Sumaré, na região de Campinas. Acabou voltando para Milagres, mas “com
outra cabeça”. Ele conta que conheceu o rap “pra valer” no ano 2000.
Para ele ainda é possível ver o rap como um movimento onde
há fases de pouca união. “Isso acontece por influência de outros gêneros que
exigem mais dinheiro e dão dinheiro às gravadoras. Existe o homo sapiens e o homo Money. É por causa do homo
Money que ainda não existe tanta união. Esta iniciativa da Geração
Underground vem para mudar isso. Ele e Dedel conheceram-se trabalhando na mesma
firma e desde então passaram a trilhar juntos a caminhada do rap. “Eu já tinha
muitas letras quando isso aconteceu”, disse Dedel. Eles concordam que existe
pouco incentivo governamental para a cultura de forma geral e, no caso, para o
rap também. “Agora, passada a moda do rap existe um novo ciclo, agora sem moda,
mas com aparecimento e resgate de verdadeiros talentos.
Quando indagado sobre o estilo de seu rap, Dedel diz “é
tumultuar”. E ri. Quando fala em tumulto ele não fala em briga ou crime. “Eu
falo de uma cultura que mexe com a cabeça das pessoas. O hip hop é uma cultura
que existe. Mantém uma linhagem cultural”, diz Dedel. Para quem está entrando
no Movimento Hip Hop eles dizem que é preciso ter fé e acreditar em seu
potencial. Quem saiu, dizem, está na hora de voltar. W. MC e Dedel, quando perguntados
sobre o que têm ouvido são diretos: Dina Di. “Perdi meu pai muito cedo e ouvia
ela falar de cuidar do filho sozinho. Perdi meu pai com sete anos de idade”,
disse. “Também tenhyo ouvido o grupo Dinamite que é de São Paulo. Escuto muito
raggae e coisas que tocam meu coração. Por isso que quando faço música, também
faço um desabafo.
W. MC considera que os artistas do rap têm sido respeitados
como músicos, mas que ainda falta, por exemplo, rappers que vão à TV para
cantar para o “gueto e não para playboy”. “Favelado também tem TV em casa”.
Eles também citaram Elias Regina como dona das músicas que têm ouvido.
O blogue ttambém entrevistou o Almir, que é grafiteiro e sempre
está nos eventos da Geração Underground. “A iniciativa é do caralho, bom para
caramba e não deixa a vela apagar. É um palito de fósforo que vira pode virar
uma fogueira. A parada foi grande e tem uma galera que faz uma parada bem
feita. O graffiti está dentro de um movimento, por isso não está parado e não
tem uma forma só. Comecei meu trabalho de graffiteiro em 98”, conta. Para ele,
antes, o havia muita falta de informação. “Hoje existe mais informação, mais
contatos, tecnologia e até spray específico para o graffite. Artista visual ele
avalia que muitos vieram da academia e mergulharam na Cultura Hip Hop. Ele fez
o caminho inverso. Começou o trabalho como grafiteiro e só depois fez artes
visuais em uma faculdade do Mato Grosso do Sul.
“Fiz licenciatura. Na academia você conhece mais materiais,
artistas. Mas na faculdade eu me interessei mais pela escultura. Mas ele
considera que ainda existe muita gente que não é de movimento nenhuma e entra
na academia para apenas ter um diploma para o mercado de trabalho. No Mato
Grosso do Sul ele considera que o Movimento Hip Hop ainda é muito pequeno, mas
é unido. Ele tem visto trabalhos do inglês Banksy. “Ele pegou uma pedra e
transformou num carrinho de supermercado”, conta. “Ele faz um trabalho social,
como de u faxineiro que aparece varrendo a sujeira para haixo de um muro. Ele
pega bonecos e transforma aquilo na representação de pessoas em um campo de
concentração . No rap, Almir tem ouvido SNJ, De Menos Crime, Criolo, entre
outros.
O último entrevistado, quando já era noite no Jardim Telesp,
foi Vulgo Neguin, que acabava de se apresentar. “Essa iniciativa é maravilhosa.
É cem porcento”, resume. Para ele, faltam espaços para o Movimento Hip Hop e,
depois de 15 anos “na estrada”, continua ouvindo Racionais e Sistema Negro. A
inserção do rap e do Movimento Hip Hop como um todo, para ele, ficou muito
dependente do poder econômico. Por isso os elogios ao “Aqui Tem Grupos
Ensaiando”. “No rap eu só acredito nos parceiros que estão comigo”, afirma. “Se
eu estivesse começando hoje, acho que eu não cantaria”, disse. “Acho que é
preciso investir nas crianças”, resume. Vulgo Neguin considera que a iniciativa
da equipe Geração Underground está criando bastante expectativa nos grupos e
nos artistas em geral do Movimento Hip Hop: “É uma coisa que está acontecendo
independente e tem reunido pessoas que fazem trabalho de qualidade”.
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