A Cultura da periferia é expressada no Fazendo Arte no Parque

"No interior o hip hop continua vivo Aqui é Campinas no ar, o rap é mais expressivo, agressivo, consciente, pesado experiente, Estilo Malokeiro fortalecendo o elo da a corrente" - Trecho do rap "O Elo da Corrente" do Grupo Estilo Malokeiro


Cultura, segundo o dicionário Aurélio, é um substantivo feminino, significa ato, efeito ou modo de cultivar. Também é o  complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das manifestações artísticas, intelectuais etc., transmitidos coletivamente, e típicos de uma sociedade. Ainda traduz o conjunto dos conhecimentos adquiridos em determinado campo. Mas pode ser, por exemplo, na roça, no meio agrupecuário e rural, entendido como criação de certos animais ou plantação de vegetais, ou, na Ciência, espécimes microscópicos: "cultura de germes", por exemplo. Não é da definição da roça nem da ciência que se fala aqui, mas sim da cultura de um povo. De expressão cultural.

Nos próximos dias o blogue publica um conjunto de entrevistas colhidas durante a última edição, domingo, dia 25 de maio, com os artistas e demais pessoas que participaram do programa Fazendo Arte no Parque, realizado mensalmente, desde 2012, no Parque Linear Capivari, Jardim Santa Terezinha, região Sudoeste de Campinas, também conhecida como Eixo Santos Dumont. O primeiro entrevistado é José Luís dos Santos, o rapper Doutor Sinistro, um dos idealizadores deste projeto cultural. Na entrevista que segue, na íntegra, ele é questionado sobre como é produzir cultura, especialmente na periferia. Confira:

Reportagem – Doutor Sinistro, como é promover cultura na periferia em Campinas? 

Doutor Sinistro – Olha meu caro, para mim, eu não sei se vou responder da maneira correta porque a gente já está habituado com isso, então pra mim, a minha vida é isso. Então pra mim, Eu acho que já me expresso com isso. Só de andar nas quebradas a gente já está disseminando cultura de uma certa forma, mas fácil, fácil, não é porque há várias resistências, a mídia pega pesado. Há um processo contra a cultura. Existe uma cultura de desacultaramento que é aquela coisa de o pessoal jogar coisas banais para sufocar aquilo que realmente é cultura e é instrutivo. 

Reportagem – Você se refere à cultura de massas?

Sinistro – Isso, entendeu? Então a gente tem que competir tanto com a mídia como o nosso povo que acaba sendo sufocado por essa visão ... sei lá ... até mais televisiva.

Reportagem – O mainstrean?

Sinistro – Né? Utilizou o termo correto! O povo como um todo ainda têm ... A galera o povo, a masa como um todo ainda tem na mente aquela coisa de que cultura na periferia é futebol, ou samba, ou algo assim. E as coisas que vão sendo massificadas, né meu? Mas existem outros ritmos ...

Reportagem – É porque aqui eu estou vendo bastante coisa diferente...

Sinistro – O fato de estar desenvolvendo esse projeto aqui, ele não é, como você pode ver, não é exclusivamente assim do rap. Então, eu sou rapper e quem está envolvido também na produção da pegada são todos rappers mas a gente tem esse olhar mais amplo para estar tentando contemplar todas as culturas, toda a cultura, todos os segmentos culturais de um modo geral, também, sem também fugir do foco e aquela coisa mesmo de produzir cultura de qualidade, uma coisa pra instruir, não para destruir, no caso. 

Reportagem – Vocês estão lançando hoje uma música, “Elo da corrente”. Me fala um pouco como que foi trabalhar essa música para estar lançando aqui, hoje.

Sinistro – Pra você ver né velho? A gente tem um trabalho já de quase vinte anos que a gente apresenta ainda até hoje e que tem uma grande aceitação do público. Essa letra tem alguns meses, mas assim, pelo que a gente aborda nela como um todo, a letra em si, eu achei que ela vem realmente de encontro com o fato de ela estar reascendendo o rap de modo geral assim na cidade, de dar um puxão de orelha, um alerta, de que Campinas não morreu para o rap, nem o rap morreu para Campinas e nem para o Interior, então é uma forma de a gente estar também, vamos dizer assim: Agradecendo a todas quebradas onde a gente já colou, onde a gente cola, onde a gente é conhecido, é considerado, onde a gente tem um conhecimento, onde a gente tem conhecimento de que há alguns focos de resistência ainda, então, não deu para falar de todos os bairros como um todo, mas vamos falar de Campinas de um modo geral para que todo mundo se sentisse contemplado, inclusive. 

Reportagem – Você está no ano dois do Fazendo Arte no Parque. Como que você se sente. Você acha que isso já é uma vitória ?

Sinistro – Olha, uma vitória eu acho que ainda não é. Porque a guerra ainda continua. A gente ainda está na batalha. Ainda existem muitas coisas para serem travadas, muitas coisas ainda para serem conquistadas para a gente ter isso, assim, como uma vitória, como um todo. Vamos dizer assim que está sendo positivo. Vamos dizer que estamos tendo alguma vantagem no campo de batalha, mas entre mortos e feridos, acho que ainda muita coisa para ser concluída com tudo isso. É claro que a gente está contente com a estrutura com a qual a gente está lidando, com a confiança que a gtente está tendo da Secretaria da Cultura, pelo pessoal ter delegado uma estrutura nesse porte, e de maniera até, vamos dizer assim, contínua, visando e garantindo o ano todo, não é comum. Na cidade de Campinas, pelo menos, com o pessoal já estar garantindo uma estrutura deste porte para contemplar os grupos e bandas que vem aqui se apresentar isso é uma vitória, então para quem começou se arriscando em 2012, 2013, que foi quando a gente realmente demarcou o espaço, muita coisa assim.

Reportagem – Então este é ano três do Fazendo Arte no Parque?

Sinistro – Basicamente sim. Em 2012 a gente uma ou duas edições e como a gente não tinha estrutura, eu estava desempregado, tinha que fazer vaquinha, foi muito cansativo e desgastante. Foi proveitoso pelo fato de a gente estar trazendo pessoas que ainda não conheciam o espaço. Isso daqui foi bom porque a gente tem conhecimento de que muitas parcerias de grupos de rap acabaram se consolidando a partir do momento que as pessoas vieram aqui participar do evento. Então, isso aqui, para a gente é vitorioso porque ainda estamos na batalha e eu acho que ainda dá para conseguir mais coisas. Mas eu acho que da onde a gente está dá para a gente olhar para traz para falar “pô a gente está chegando”. O rap tem voz e dá para a gente conseguir chegar ao nível de que todo mundo se sinta contemplado e o rap volte a ter visibilidade de novo na cidade e no interior. E este projeto é justamente para isso.



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