A historiadora e gestora da Casa de Cultura Fazenda Roseira, Alessandra Ribeiro, acredita que o Sistema de Áreas Verdes Quilombo dos Palmares poderá se tornar um espaço de lazer e conhecimento sobre a cultura negra para toda a população da cidade. A criação do Sistema foi aprovada na Câmara Municipal, dia 1º de Junho, por iniciativa do vereador Carlão do PT, presidente da Comissão Especial de Estudos sobre a implementação da Lei 10.639/2003, lei federal que obriga o ensino da história e cultura africana e afrobrasileira nas escolas de todo o País.
Alessandra também avalia que o Sistema irá contribuir com a potencialização da Lei 10.639, já que poderá ser mais um espaço de formação e aprendizado. O Sistema de Áreas Verdes Quilombo dos Palmares possui mais de 59 mil m2, onde está inserida a Casa de Cultura Fazenda Roseira, que já promove uma série de atividades culturais da comunidade negra. O objetivo do autor da proposta é homenagear os negros quilombolas e contribuir com a preservação ambiental e revitalização da área, representando uma demanda da comunidade. A expectativa, agora, é pela sanção da Lei pelo prefeito Jonas Donizette, para que possa ser colocada em prática. Confira, a seguir, a entrevista com Alessandra.
Alessandra, essa proposta atende a uma demanda da comunidade negra de Campinas? De que forma?
R: Sim, a proposta atende a uma demanda da comunidade negra. Pois é de extrema importância para nós demarcarmos nos espaços públicos as contribuições e memórias afetivas dos afro-descendentes para a formação e expansão da cidade de Campinas e sua transformação em grande metrópole. E ter um projeto construído com nossa participação para as Áreas Verdes do entorno da Casa de Cultura Fazenda Roseira,certamente fortalece esse objetivo, como também contribui para a preservação ambiental em um momento em que as ocupações imobiliárias dessa região acabam por reduzir nossa vegetação nativa e exótica.
Em sua opinião, qual a importância histórica e cultural da denominação proposta? Se possível, fale um pouco sobre a história da Fazenda Roseira e da existência de quilombos na região de Campinas durante o período escravocrata.
R: Desde a placa de entrada da Casa de Cultura Fazenda Roseira, como em seu interior, sempre nos posicionamos como Quilombo Urbano, já que temos como trabalho permanente a formação, vivências e experimentos entorno da cultura negra e africana. E nessa perspectiva, o Sistema de Áreas Verdes Quilombo dos Palmares efetivamente nos representa. Campinas teve, desde as suas origens, diversas revoltas escravas, como fugas para quilombos na região, demarcando uma resistência às atrocidades escravocratas diante de uma postura senhorial muito agressiva, que, inclusive, era usada como repressão aos escravizados que vinham para cá. Ser vendido para um senhor de Campinas era entendido como correção severa. Poder no presente ressignificar essas atrocidades, com a inclusão efetiva de projetos públicos, em parceria com a sociedade civil, que atuam com essa referência cultural, é uma vitória para a comunidade negra e resultado de muito trabalho.
Há notícias sobre furtos recorrentes e dificuldades de manutenção do prédio da Casa de Cultura Fazenda Roseira. Você acredita que essa proposta vai contribuir com a revitalização da área e mais condições de segurança aos frequentados da Casa?
R: Acreditamos que todas as melhorias contribuem. Temos vulnerabilidades concretas na Casa de Cultura Fazenda Roseira, pois é um prédio muito antigo e que necessita de reparos e cuidados constantes. Por isso, vemos a inserção de um projeto ampliado para área de APP (Área de Preservação Permanente), em diálogo com a Casa de Cultura Fazenda Roseira, como uma possibilidade concreta de trazer melhorias para todos. Temos propostas para essa área que, inclusive, poderá ser mais um espaço de formação, experimentos e potência para a lei 10.639/03 (lei federal, que obriga o ensino da história e cultura afro nas escolas). Essa proposta inclui fundamentalmente um vínculo entre área verde, cultura negra e africana e mitologia africana, como seus métodos e manejos produtivos voltados para o meio ambiente. Se efetivar esta proposta e tivermos possibilidades de melhorias, será, além de muito bonito, mais um espaço de passeio, lazer e conhecimento acerca dessa cultura negra para toda população de Campinas.
E os frequentadores da casa estão nesta expectativa de com esse projeto poder ter mais atenção e apoio do poder público para melhorias e preservação deste espaço.
O autor do Projeto também espera contribuir com a preservação da área verde. Você tem conhecimento sobre a situação da vegetação nativa da área? Como avalia a efetividade e importância da preservação ambiental por meio da proposta?
R: Preservar a área verde do entorno da Casa de Cultura Fazenda Roseira é parte de nossa missão como cuidadores da Casa de Cultura Fazenda Roseira, pois é um local vulnerável a queimadas, aos lixos que são jogados por moradores sem consciência, o que já nos coloca em atenção permanente. Com a aprovação deste projeto, acreditamos que poderemos ter apoio efetivo do poder público para cuidar dessa área verde de importância para o equilíbrio ambiental da região e da cidade, como também de ampliação do suporte para a manutenção da Casa de Cultura Fazenda Roseira.
Como o Movimento Negro e a população em geral podem colaborar para que a lei seja sancionada e efetivada pelo Município?
R: Pode colaborar acompanhando os andamentos do projeto e enviando propostas para a consolidação e implementação desse importante projeto para a cidade de Campinas. Estamos felizes, como membros da comunidade negra e gestores da Casa de Cultura Fazenda Roseira, pela aprovação de mais um espaço que certamente é uma referência e um patrimônio cultural para todos nós.
- Alessandra Ribeiro é historiadora e doutoranda em Urbanismo pela PUC-Campinas, gestora da Casa de Cultura Fazenda Roseira e liderança da Comunidade Jongo Dito Ribeiro.
Fotos: Assessoria de Imprensa da CMC

Nenhum comentário:
Postar um comentário