Deputado federal Renato Simões: "O atual sistema político não nos representa"

O deputado federal Renato Simões, do PT, de Campinas, interior de São Paulo, concedeu entrevista exclusiva ao blogue, em que fala sobre suas expectativas para eleições de 2014 ("Acredito que serão as mais polarizadas da história recente do Brasil"), sobre o desafio de ser parlamentar ("O atual sistema político não nos representa") e da política de Direitos Humanos no Brasil (Olhando para o futuro, no entanto, ainda temos um enorme caminho a percorrer"). Confira e entrevista na íntegra:

Reportagem - Qual sua expectativa com as eleições de 2014?

Renato Simões - Acredito que serão as mais polarizadas da história recente do Brasil. E num nível que se anuncia baixo, nem sempre centrado nas alternativas concretas para responder aos interesses populares, mas na desqualificação da outra candidatura, em particular da favorita no processo eleitoral, a Presidenta Dilma. Por isso, acredito numa eleição muito disputada para a Presidência da República e para os governos estaduais dos três principais estados do país: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro podem eleger candidaturas de oposição aos atuais governos e fortalecer o projeto nacional vitorioso. Assim, nesta encruzilhada em que o povo brasileiro está, em eleições acirradas e disputadas, acredito que sairá vitoriosa a alternativa mais avançada, que sinaliza para a continuidade das conquistas sociais e econômicas do povo brasileiro nos últimos 12 anos e para o aprofundamento de reformas estruturais que são essenciais para o progresso e a Justiça Social em nosso país, entre elas a reforma agrária, a reforma urbana, a reforma política, a reforma tributária e a democratização da mídia.

Reportagem - Qual o maior desafio de ser parlamentar? 

Simões - O atual sistema político não nos representa, como bem disseram as novas gerações que ocuparam as ruas em junho de 2013. Cerca de dois terços dos atuais deputados federais foram eleitos com as campanhas mais ricas de seus respectivos partidos, financiadas pelo grande capital, que lhes apresenta a fatura política a cada votação que contraria seus interesses econômicos. Por isso creio que a reforma política é essencial para que a política recupere o seu caráter público, de busca do interesse público, de defesa do patrimônio público e da participação popular nas decisões políticas mais importantes. Neste momento em que assumi o mandato de deputado, creio que o maior desafio de ser parlamentar coerente com os propósitos de transformação social do nosso país é não se deixar cooptar por esse sistema político e de lutar por sua reforma. Estamos engajados, para ampliar esse debate, na organização do Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político a realizar-se em setembro, na Semana da Pátria, que espero produza uma nova consciência popular sobre o sistema político e sua reforma.

Reportagem - Qual sua avaliação sobre a atual política de direitos humanos? 

Simões - Olhando para o passado, é um enorme avanço: conseguimos aprovar os tratados internacionais de direitos humanos mais importantes, que têm hoje força de emenda constitucional, impedimos retrocessos na legislação pretendidos pelos setores mais retrógrados, criamos comissões legislativas de direitos humanos nos Parlamentos federal, estaduais e municipais, temos programas governamentais de direitos humanos, políticas públicas que asseguram a mais brasileiros e brasileiras o acesso a direitos fundamentais e uma grande organização na sociedade civil dos movimentos de direitos humanos.

Olhando para o futuro, no entanto, ainda temos um enorme caminho a percorrer: direitos humanos são construção histórica, somos construtores de novos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais, individuais, coletivos e difusos. Enfrentamos um novo conservadorismo militante, com traços fascistas, algumas vezes lastreados de forma oportunista no fundamentalismo religioso, que não querem avanços para a garantia de direitos de mulheres, crianças e adolescentes, LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), negros e negras, indígenas, quilombolas, ciganos e ciganas, trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade. Esses temas nos desafiam no presente e formam parte de qualquer agenda de direitos humanos no futuro do povo brasileiro. 

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