Liandro Lindner*
A esquina onde o uso problemático de drogas e a aids se encontram acontece em ambientes diversos, muito além das cracolândias mostradas com exaustão nos noticiários e – atualmente – nas novelas. A tendência de reduzir esta equação somente a pessoas em situação de rua apenas reforça a estigmatização e o preconceito que esta população já sofre. É preciso, sim, medidas direcionadas que promovam sua integração social, como a criação de oportunidades de trabalho e estudo, mas também é preciso ouvir deste grupo quais as ações que realmente reverberam dentro de suas realidades.
O que se observa hoje em grande parte das ações direcionadas são decisões de estratégias de “cima para baixo”, que visam sobretudo o isolamento de pessoas nesta situação. Infelizmente, por isto, ganham espaço a criação de comunidades terapêuticas e a ampliação de estratégias de internação compulsória visando somente “tirar da frente dos olhos” estas pessoas. A história da aids mostrou que só com o envolvimento dos grupos mais atingidos as políticas são construídas e nossas estratégias, de criação de vínculo e comunicação, são estabelecidas.
Além disso, o contexto do uso de drogas (qualidade, quantidade, uso seguro, tipo de uso e de droga) precisa ser melhor conhecido para que se estabeleçam estratégias direcionadas. Num ambiente de insegurança e preconceito, fica difícil a promoção de qualquer ação de saúde, visto que a sobrevivência acaba sendo bem mais importante do que qualquer outra coisa.
Neste cenário, ações que envolvam o uso do álcool, por exemplo, devem ser implementadas principalmente pelos danos que o excesso de bebida causa, mas também por sua associação direta com o relaxamento de proteção nas relações sexuais e consequente ampliação da possibilidade de infecção do HIV.
Da mesma forma, estratégias voltadas para usuários de drogas sintéticas devem levar em consideração o contexto de uso e seu significado para cada usuário ou situação. Para isso, os profissionais de saúde são peças fundamentais e a capacitação destes, não apenas técnica, mas também caminhando para o lado da sensibilização, que vise a mudança de paradigmas, é fundamental.
Embora os investimentos em estudos comportamentais pareçam estar reduzidos, é fundamental que o entendimento das formas de agir, viver e pensar dos grupos excluídos e vulneráveis sejam valorizados. É conhecendo o entorno de tudo que leva à ampliação da possibilidade de um novo caso de HIV/aids, uma doença oportunista que poderia ser curada, uma dificuldade de acesso ou uma morte prematura, que também estaremos promovendo vida e vida de qualidade. Mudar o olhar é preciso.
Liandro Lindner é jornalista, mestre em comunicação e saúde e doutorando em saúde pública
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