Lúcio Flávio, O Passageiro da Agonia

"Com tantos pensamentos desencontrados, e tanta esperança brotando, os olhos adquiriram a antiga agilidade, esquadrinhavam as paredes. Lúcio se prostara de joelhos, examinava o cimento. Bastava uma mossa que fosse, uma falha no piso e estava ali a solução. Se o piso fosse uma sólida laje, então procuraria uma fenda, greta, miúda, na base das paredes. Bateu repetidas vezes com os pés no piso. Não lhe parecia laje. Quando muito tinham colocado uma camada de pedras, socado e, por cima delas, jogado cimento. Na pequena falha, mais apalpada do que vista, pôs-se a arranhar com o cabo da colher. Não podia fazer força, porque se não a haste e toda a esperança estaria perdida. Preso deve ter paciência. Às vezes fica  meses, anos elaborando coisas sem importância. Só para ocupar as mãos e os pensamentos."

de José Louzeiro

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