O poder econômico e a falência nas relações humanas

Eli Fernandes

O discurso do poder econômico é mesmo sedutor. O fato de uma pessoa ter dinheiro e poder comprar mercadorias a ilude de que foi transformada em alguém acima de qualquer suspeita e dona da verdade, afinal, ela está pagando.

Nesta onda ela descarta qualquer possibilidade de respeito a direitos humanos, às relações afetivas, às mais básicas regras de convivência. O desrespeito é um detalhe. A norma básica é: Você tem dinheiro? Não, então não me interessa.

Podia ser simples. Esta pessoa não combina comigo. Não está em acordo com a minha concepção do que seja humanidade e de como devem se dar as boas relações humanas. Relegado ao papel de máquina geradora de dinheiro e provedora do consumo, sem o poder econômico, sou reduzido a incômodo, taxado de vagabundo e até, por mais absurdo que pareça, pecador.

Então não vou me relacionar com ela. Mas ela não me deixa em paz. Está preocupada com o que eu faço com meu corpo, com as roupas que eu visto, com a música que eu ouço, com o que eu penso e com o que eu faço ou deixo de fazer. Sua insignificante remuneração serve de credencial para ajuizar a minha vida, para me julgar e condenar.

A máxima da pessoa que é massalariada e não detentora de meios de produção é a ilusão de sua autonomia financeira. Para receber um salário mínimo a pessoa se submete às mais sujas condições morais, ganha a tal remuneração e passa fazer o mesmo discurso do patrão endinheirado. Não enxerga que está recebendo um subsídio insignificante perante à fortuna do capitalista dominante e que é uma mera ferramenta de manutenção do poder de seu opressor.

A ideia de que "eu tenho dinheiro então eu posso tudo" supera ética, qualquer possibilidade de harmonia que não esteja relacionada aos dígitos de contas bancárias, supera valores humanos e subjuga qualquer tipo de iniciativa que não venha acompanhada de uma considerável cifra. O dinheiro ocupa o lugar de uma divindade e é o arquétipo do poder armado, do poder da violência e da agressão.

O dinheiro substitui benevolência, amor ou qualquer expressão de de sentimento e afeto. Em nome do dinheiro tudo é válido. Mentir, matar, roubar, desqualificar o próximo. Tudo você pode se tem o poder econômico, mesmo que ele seja ilusório, mesmo que ele seja irrelevante. A pessoa, seduzida e conformada, reproduz o discurso do capitalista bem sucedido na lógica do poder econômico.

Não. Viver é incomparavelmente maior que isso. E as pessoas definitivamente não vivem para ganhar dinheiro. E quem coloca o poder econômico como divisor de águas nas relações sociais ao ponto de se pautar por inteirar-se apenas com os que detém acúmulo de grana definitivamente, em minha opinião, está trabalhando intensamente no sentido da falência da humanidade. A história a gente já conhece e sabe onde isso vai dar.

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