O legado da Rio 2016
A imprensa nacional (ou pelo menos parte dela) diz que o Brasil não conseguirá superar o Canadá no quadro de medalhas. Só se for na quantidade. Pelo "valor" das medalhas o País tem mais ouros. E já passou os canadenses, mesmo não estando no top 10. E se é verdade que pode desenvolver-se como potência olímpica após os jogos em casa, como a Grã-Bretanha, precisa de ampliação no investimento de instituições como BNDES, Caixa, Banco do Brasil, Ministério do Esporte, Forças Armadas e Petrobras, sem esquecer de outras instituições públicas que deem apoio permanente e não fugaz como do setor privado.
A Grã-Bretanha, talvez a grande surpresa desta Olimpíada Rio 2016, mostrou-se melhor que quando em sua própria casa. Afinal, sempre espera-se que o país sede se dê melhor quanto as disputas são em seu território, que quando jogam na casa dos outros, em outros países. Sendo assim, pode-se esperar que o Brasil, reservadas as suas proporções, também inicie um processo em espiral para cima e torne-se de fato uma potência olímpica.
De imediato é preciso trabalhar contra uma possibilidade de o País entrar numa onda de tédio depois de ter sediado a Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e a Olimpíada e Paralimpíada. Pois e no ano que vem? Os atletas continuam com garantias nos apoios e patrocínios que conseguiram no momento em que o País vivia uma febre de grandes eventos que começaram com os Jogos Pan Americanos, em 2007.
A situação política e a situação econômica são completamente diferentes do que acontecia na década passada, quando da conquista do direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016 e a Copa do Mundo de Futebol de 2014. A febre do petróleo começou um ano antes dos Pan Americanos e esfriou. A própria destinação do recurso natural brasileiro descoberto em reservatórios ao litoral da região Sudeste do Brasil é um incógnita. A exploração do mineral pode ser feita inclusive por empresas estrangeiras, o que torna o processo ainda mais nebuloso, pois não se deu nomes aos bois ainda sobre quem vai ficar com poder sobre o petróleo.
Com esta fonte de recurso, que embalou o governo da época, o esporte não pode contar, pelo menos no momento. Caso ele seja desenrolado e a exploração em massa dos reservatórios brasileiros de petróleo deslanchar e dependendo das mãos em que vai estar, poderá ser o mesmo combustível que mobilizou o País na década passada. Mas dependendo do modelo de exploração, não é com este recurso que o esporte brasileiro vai poder contar.
Uma palavra de uso recorrente quando fala-se de Olimpíadas é o tal legado que os jogos podem proporcionar ao país. Daí a Grã-Bretanha pulando para o segundo lugar no quadro de medalhas (desbancando China, Alemanha e Rússia) e, como não citar outro exemplo, o da Espanha, que se não manteve o país ibérico entre as potências olímpicas, catapultou Barcelona como destino no mundo e fincou a participação mais visível dos espanhóis no quadro de medalhas pelo menos por mais de 20 anos.
A Austrália, dos jogos de Sidney, em 2000, e a Coréia do Sul (com Seul), dos jogos de 1988, também mantiveram-se entre os 10 maiores ganhadores de medalhas depois que sediaram as edições das Olimpíadas. Isto é um tipo de legado olímpico. O que aconteceu na Espanha, com desenvolvimento turístico, econômico e social de Barcelona e do próprio país, também é legado.
No Rio de Janeiro o que se fala é de um legado de longo prazo, e compara-se a Olimpíada brasileira ao que se fez na Inglaterra e Espanha. Mas o caso do Rio de Janeiro é único, porque além de não ter alavancado o país já ao estatuto de potência olímpica, nem ter conseguido metas voltadas ao urbanismo, como a despoluição da Baía de Guanabara, que ficou no campo das promessas, não saiu do papel, os Jogos foram realizados durante um dos piores momentos do País em sua história recente e de certa forma, de toda a sua história. Crise econômica com desemprego, inflação e retração da indústria, e uma crise política, com presidente afastada, presidente interino sendo vaiado na abertura da Rio 2016, escândalos sem iguais nas apurações da Operação Lavajato da Polícia Federal alcançando políticos dos maiores partidos e às vésperas de uma eleição municipal.
Do ponto de vista da organização, fora a imundície da Guanabara, até que se tentou desestabilizar os Jogos com supostos problemas de segurança e de acomodações envolvendo as delegações de Estados Unidos e Austrália. Com os dois países, no entanto, o aprofundamento e desenrolar da Olimpíada só revelou mais má-fé dos próprios atletas dos países papões de medalhas do que de fato problemas na organização. E não houve atentado terrorista.
Para finalizar, se é mesmo para continuar com a aventura olímpica, o governo precisa descer do muro e, no mínimo, dar continuidade aos programas de incentivo que foram implantados nos últimos governos. Precisam ser consolidados como Política de Estado, não apenas como programas de governo, pois esses passam e voltam e as Olimpíadas acontecem sempre a cada quatro anos. Não podem esperar.
Tóquio é já. Quatro anos, para preparar uma Olimpíada, não são nada. Tanto que os países começam mobilizar-se antes dos quatro anos restantes entre uma edição e outra. Mas isso, quando falamos do evento. No que diz respeito ao preparo dos atletas, quatro anos são muito menos ainda. Se o governo começar agora a tirar o atraso, ainda assim, é bem provável que só vá repercutir depois do Japão, quem sabe em Paris, a mais forte candidata a sediar os Jogos de 2024.
Eli Fernandes
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