Descendente de passageiros do último navio negreiro a chegar à Bahia receberá título de cidadã campineira

De: Michele da Costa

Descendente de passageiros do último navio negreiro a chegar à Bahia receberá título de cidadã campineira

Campinas, 11 de dezembro de 2015- Eunice de Souza, mais conhecida como Mãe Dango, receberá o título de Cidadã Campineira, em Reunião Solene na Câmara Municipal, neste sábado (12), às 10 horas. Ela é descendente de africanos que chegaram ao Brasil no último navio negreiro a desembarcar na Bahia, segundo texto do decreto legislativo que concede o título (com base em informações da família). A homenagem foi proposta pelo vereador Carlão do PT, em reconhecimento à grande contribuição de Mãe Dango à cidade.

Eunice nasceu e foi criada em Belo Horizonte (MG). Sua família adotou o sobrenome dos senhores da fazenda aonde trabalhavam. O pai, Antonio de Souza, trazia as tradições africanas, o conhecimento das ervas e curas, tendo sido conhecido como “Banzu” (o grande pássaro negro). Foi em 1970, já casada, que ela se muda com a família para Campinas, onde teve os primeiros contatos com religiões de origem africana.

Ao longo dos anos, ficou bem conhecida por seu trabalho como Mam’etu Ria Nkisi e por sua luta pelos direitos dos negros. Foi Mãe Dango quem trouxe da Bahia, junto com Mãe Corajacy, a cerimônia de Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana. Fora do estado da Bahia, Campinas foi a primeira cidade entre todos os outros estados do País a realizar esse ritual, dando publicidade à existência na região do culto à tradição dos Nkisis.

Mãe Dango é uma das criadoras do Projeto Candeias, que contribui com o resgate da memória das religiões afro em Campinas e região, com objetivo de combater o preconceito a essas crenças. Ela ainda coordena o Fórum de Segurança Alimentar, programa do governo federal que distribui cestas básicas a 480 famílias da região de Campinas.

História

Relatos históricos indicam que o último desembarque de negreiro na Bahia ocorreu em outubro de 1851, o Relâmpago, vindo de Benin, com 500 negros que seriam escravizados no País. Como na ocasião já estava proibido o comércio de escravos (Lei Eusébio de Queiroz, 1850), o navio foi perseguido por um barco de guerra brasileiro quando se aproximou da costa, mas fugiu, conseguiu ancorar e despejou a “carga” na água, já que os botes não eram suficientes. Dezenas de pessoas morreram afogadas, pois não sabiam nadar. Nas buscas que se sucederam, 285 africanos foram encontrados e libertos.

Já o último navio negreiro a desembarcar no País data de 1852, no Rio de Janeiro, o americano Camargo, com 500 africanos, segundo o artigo “Tráfico Made in USA”, de Carlos Haag, publicado na Revista Pesquisa FAPESP (edição de fevereiro de 2009). Após a intervenção do Estado nas fazendas onde os escravizados tinham sido ilegalmente comprados, apenas 38 foram recuperados. Pelo menos 430 navios americanos teriam feito 545 viagens escravistas às Américas entre 1815 e 1850, a maioria para Cuba e Brasil.



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