A morte e o beijo estão em "O Homem com a flor na boca"


"O homem com a flor na boca" é uma das menores, mas de maior poesia, entre as obras de Luigi Pirandello, um escritor italiano, que tem uma extensa obra. Nesta ele trata de um assunto que é um homem que esta morrendo de câncer e que nega a relação com a morte por meio das histórias que cria na sua cabeça e através da vida dos outros. Uma obra que faz repensar a relação do ser humano com a vida. O responsável por esta montagem é o ator Felix Solares D´el Cid, que estudou artes cênicas na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Confira a entrevista com ele, em que fala sobre a peça e um pouco sobre teatro tanto na América Latina como nos Estados Unidos. Confira abaixo a entrevista na íntegra:




Por que escolheu este tema e este texto em especial para montar a peça?

Felix: O homem com a flor na boca foi um texto que me impactou desde que o vi montado pela primeira vez, no Brasil, com Cacá Carvalho, faz 20 anos. E desde esse momento sempre o quis montar.


Por que este texto te afetou de alguma forma?

Felix: Acredito que agora estou maduro o suficiente para poder encarar um personagem desde tamanho. O homem é um poeta, um filosofo, um clown, tudo ao mesmo tempo e encara a morte de uma forma muito singular. Esse momento em que descreve a morte me impactou para sempre. E também o momento em que descreve o beijo.

Então ele trata da morte nesta obra?

Felix: Sim, da morte do mesmo personagem. Na peça aparece uma mulher que nunca esta em cena. Ela é a mulher do personagem que o segue a toda parte, mas é ao mesmo tempo a morte que o persegue. A peça entra em cartaz o dia 12 de junho até o dia 15, aqui no Nido de las Artes de Panamá. É no interior do pais. Decidimos criar o espaço para descentralizar a cultura de da capital, que é onde sempre acontece tudo. A cidade se chama David e fica na província de Chiriqui. Está a 15 minutos da Costa Rica. É uma região onde não se tem nenhum desenvolvimento cultural. Depois será apresentada em Nova Iorque, em julho. Será em Brooklyn Heights, um dos espaços culturais do Brooklyn. Neste momento estamos negociando com BRIC.

O que você acha do espaço para p teatro latino nos Estados Unidos, especialmente em Nova Iorque?

Felix: Nova Iorque hoje fala espanhol, e é comum escutar português diariamente. Assim há um público para o teatro e arte em geral latino, ainda pouco explorado, mas acredito que os espaços maiores ainda estão para aqueles que falam o inglês. Temos uma grande quantidade de atores mexicanos e alguns brasileiros aparecendo no cinema dos Estados Unidos. É a primeira vez que volto ao teatro desde que sai do Brasil, tinha feito um período sabático.

Os atores da peça, quantos são? São todos panamenhos? Eles serão os mesmos nos USA?


Felix: O texto é para dois atores, mas o transformei em monólogo. Tenho também três músicos em cena, e dois personagens que nao falam, mas estão dentro do espaço cênico. O público é transformado no antagonista do homem com a flor. Sou o personagem, mas a obra é baseada nas relaçoes, assim que o público é realmente o destaque ao participar ativamente da obra. A pesquisa é basada na espacialidade, o espaço é um personagem em si mesmo, que ajuda a elaborar o mundo criativo e subjetivo do personagem. A montagem se utiliza de símbolos que unificam a experiencia, por exemplo, os músicos são transformados em puppets amarrados do teto e todo o cenário é surrealista. Os músicos e o personagem são uma só pessoa, um ser humano que tenta fugir da morte, mas nunca pode escapar do seu destino. Aqui um trecho da obra: "Si la muerte, señor, fuera como uno de esos insectos extraños, repugnantes, que a veces descubre uno encima de sí... Va usted por la calle; un transeúnte lo para de improviso, y, con cautela, con los dedos extendidos, le dice: ´Me permite, caballero? Lleva usted la muerte encima´. Y, con aquellos dos dedos extendidos, la pilla y la arroja... ¡Sería magnífico! Pero la muerte no es como esos insectos repugnantes. ¡Cuántos que están paseándose, tan alegres y confiados, quizá la llevan encima! Nadie la ve". A necesidade de cariño do personagem é enorme, porém ele tem medo, medo de poder transmitir a enfermidade com um beijo e por isso a nega. "En esta época hay unos albaricoques tan ricos...! ¿Cómo los come usted? Con toda la boca, ¿verdad? Se abren por la mitad; se oprimen con los dedos..., como labios jugosos..., ¡ah, qué delicia". Enfim, o personagem pode morrer de inanição de carinho, mais que pela própria doença. Ele leva a morte literalmente "na boca". Os músicos, cenógrafos e figurinistas são artistas locais na sua primeira experiência com a teatralidade. Hoje acredito que a arte em seu papel social também pode criar empregos e novas possibilidades em cidades em que há poucas possibilidades de emprego.

Você estudou e trabalhou no Brasil onde usou o teatro como ferramenta de trabalho para ações sociais. Sente falta daqui? E como esta bagagem está presente em seu trabalho atual?

Felix: Sim, sinto muita falta do Brasil, ainda me refiro ao Brasil como casa. Aí cresci e aprendi o papel social da arte. Ao mesmo tempo sinto que tem círculos que se abrem e fecham, e que o Brasil me deu o conhecimento e força para levar o trabalho a lugares que desde o Brasil me seria impossível. Mas o Brasil vive e sempre vivera no meu coração.



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