Amor de Outono

Amor de Outono

Colhendo os frutos do que se plantou,
Pisando sobre as folhas secas
Ao som de uma música pop qualquer dos anos oitenta,
com as portas e janelas fechadas para abrandar o vento frio que vem do Sul,
embaixo das cobertas,
quando o Sol já chega mais tarde e as luzes estão ascesas mais cedo,
quando a noite chega de surpresa,
quando as sombras vão se esticando,
pede-se um café quente, um chá, um chocolate,
e a garoa fina anuncia a necessidade de um banho quente,
uma sopa de legumes com macarrão,
um Sol que se pôs
uma Lua que chegou
uma tosse que disfarça
uma gripe que se anuncia
um mel que cura e a terapia
um sorriso mais enrugado
uma água muito mais fria
um bicho que se entoca sem ser acuado
uma palavra que se troca mais demorada
um olhar cheio de sombras e contornos redesenhados
uma carta que chegou
uma conta que não se pagou
uma conta que se atrasou
uma conta que se quitou
um atraso no ônibus
uma poesia salvadora
uma poeira suja
um acumular de sedimentos
uma dose que desce mais rápido
um telefone desligado
os calçados nos pés
as meias até as canelas
as camisas de mangas compridas
as golas levantadas até o queixo
um calor que se despede
um calor que agora vem do fogo da lareira
um calor no rosto quando da troca de olhares
você está aí novamente
hoje eu pude te ver melhor
suas roupas estão diferentes
já escondem suas tatuagens
e a pele que desidrata
um dia em que eu digo "hoje eu vou"
uma noite que não chega logo
para estar em casa e no caminho ver o sorriso que se repete
e um novo número de telefone
uma estação de trem que virou espaço de exposição
uma coincidência, um encontro
um amor de outono e pronto

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