Aditivo natural reduz custo e pode melhorar desempenho do biodiesel Produto é feito à base de resinas de árvores e de resíduos da casca de cítricos
Texto: SILVIO ANUNCIAÇÃO Fotos: Antonio Scarpinetti Edição de Imagens:Luis Paulo Silva
O principal entrave para aumentar a porcentagem de biodiesel no diesel está relacionado ao custo do combustível. Quando utilizado um biodiesel de menor valor na mistura, oriundo de gorduras animais, o ponto de entupimento aumenta, inviabilizando o seu uso. "Nós desenvolvemos um aditivo natural de baixo custo justamente para resolver este problema", indica Rodrigo Mattos.
A mistura formulada por ele como parte de seu estudo de doutorado chegou a apresentar melhoria de 80% na redução do ponto de entupimento do biodiesel analisado. O aditivo natural já tem pedido de patente depositado pela Agência de Inovação Inova Unicamp junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). O orientador do trabalho foi o docente Matthieu Tubino, do Departamento de Química Analítica do IQ.
O químico Rodrigo Mattos elenca as principais vantagens decorrentes da utilização do aditivo. A mistura já pode ser produzida comercialmente por indústrias interessadas. "A utilização deste aditivo natural pode reduzir o consumo de matérias-primas nobres para a produção de biodiesel, reprimindo, deste modo, a competição entre alimentos e combustível. Além disso, poderia haver aumento significativo da quantidade do biodiesel ao diesel, determinando, assim, a redução do derivado do petróleo. Outro aspecto importante é privilegiar o consumo de materiais provenientes de fontes naturais, tornando o combustível utilizado no país mais verde", enumera.
Outros ganhos, citados pelo pesquisador da Unicamp, estão associados ao incentivo à química verde e ao uso de produtos naturais na indústria petroquímica, além da valorização dos resíduos da indústria de cítricos e de papel. Isso porque o aditivo natural foi formulado a partir da mistura de resíduos da casca da laranja e da indústria de papel e celulose. Foram utilizados dois compostos, o limoneno e a terebintina, respectivamente.
"Estes materiais são resíduos de produção. Um exemplo é a extração do suco de laranja, cujas sobras são a casca e o bagaço. Da casca se extrai um óleo, que tem basicamente três componentes: algum resíduo polimérico; óleos essenciais, usados para perfumaria; e as substâncias mais básicas, como o limoneno. Hoje, ele é usado para algumas poucas aplicações de limpeza, como solvente. Outra substância utilizada é a terebintina. Ela é aplicada, principalmente, na indústria de tinta, como removedor. Terebintina é um subproduto, uma resina oriunda de árvores utilizadas na indústria de papel e celulose," esclarece.
RESULTADOS O químico da Unicamp explica que quanto mais baixa a temperatura, maior é a possibilidade de entupimento do biodiesel no filtro de óleo. "Com a queda da temperatura, a gordura animal solidifica primeiro que os óleos vegetais. Isso desinteressa o uso de gordura para fazer biodiesel. Só que a gordura é mais barata, e é muito abundante no Brasil. Nossa cultura é baseada em consumo de carne. Hoje a gordura é um produto de baixo custo. Ao mesmo tempo, existe o dilema: não dá para substituir o petróleo porque não há nada mais competitivo", expõe. Pela baixa quantidade de biodiesel acrescido ao diesel comercializado atualmente, a influência sobre o entupimento é limitada, pondera Rodrigo Mattos. "O nosso trabalho mostrou que o B5 gerado de biodiesel de gordura suína teve ponto de entupimento ao redor de 7º C. A intenção do governo é aumentar esta quantidade de biodiesel, chegar, por exemplo, num B10 [Biodiesel 10%], até passar por um B20 [Biodiesel 20%], um momento em que não seria necessária nenhuma mudança mecânica nos veículos. De acordo com nossos resultados, o ponto de entupimento do B10 esteve próximo de 14ºC. E o B20, chegou a 20ºC, inviabilizando o seu uso devido a nossa temperatura tropical", demonstra. Utilizando o aditivo natural, o ponto de entupimento do B20, obtido a partir de gordura suína, foi reduzido de 20ºC para 10ºC. "Conseguimos reduzir até mesmo o ponto de entupimento do B5 para o mesmo ponto de entupimento do diesel padrão, que é de 5ºC. No geral, as formulações patenteadas trouxeram melhoria de 80% na redução do ponto de entupimento", revela.
CENÁRIO O pesquisador da Unicamp explica que o consumo global de diesel derivado do petróleo está ao redor de 800 bilhões de litros anuais. No Brasil, o diesel corresponde a 50% do consumo de combustível comercializado. Em 2011, a sua comercialização atingiu a marca de 52 bilhões de litros, o que corresponde a aproximadamente 6% da demanda global deste derivado do petróleo. "São produzidos em todo o mundo aproximadamente 16 bilhões de litros de biodiesel por ano, sendo que cerca de 50% desta produção está na Europa. O Brasil produziu em 2011 3,2 bilhões, o equivalente a 20% do biodiesel comercializado globalmente. A capacidade de produção brasileira possibilitaria o início imediato da mistura diesel-biodiesel B10, com 10% de biodiesel. Entretanto se o biodiesel for produzido com gordura animal como matéria-prima de baixo custo, o ponto de entupimento do combustível será um problema. Assim, o uso dos aditivos naturais poderia ser uma solução viável", defende.
"A importância do aditivo é que ele viabilizaria a introdução imediata do B10 e também abriria uma janela para o uso de material não nobre para fazer biocombustível, como gordura suína, bovina ou mesmo resto de cozinha industrial. Todo este material, que muitas vezes é jogado em rios, poderia ser coletado, e transformado em biodiesel, aumentando a vida útil das reservas de petróleo. O aditivo poderia até ser utilizado no contexto atual, no sul e sudeste do país, regiões mais frias, onde a questão do entupimento poderia ser minimizada", complementa.
INOVAÇÃO VERSUS INDÚSTRIA Descobrir um produto inovador de relevância para a sociedade é privilégio para poucos no Brasil, país em que o número de patentes ainda é muito reduzido em relação a nações mais desenvolvidas. Conforme dados do Inpi, os depósitos em 2011 chegaram a 32 mil. O número não representa nem 10% dos pedidos de países como Estados Unidos, Japão, China e algumas nações europeias. Rodrigo Alves de Mattos aponta como uma das causas para este problema a falta de cultura e apoio do setor empresarial para o incremento da ciência e da inovação. "É muito desvalorizado, na indústria brasileira, o perfil de profissional de pesquisa, de academia. Lá fora, o comprometimento e o grau de investimentos das empresas são outros. Da forma como este profissional é tratado no Brasil, é como se ele não existisse", critica. No país, o maior número de pedidos de patentes ainda é feito pelo setor público, como as agências de fomento, universidades e empresas públicas. Tanto as pesquisas de mestrado como de doutorado de Rodrigo Mattos foram realizadas concomitantes com sua atividade profissional. O estudioso desenvolveu toda a sua carreira de pesquisador no IQ da Unicamp, atuando também como químico em empresas nacionais e multinacionais, fora do país. "Mesmo não recebendo suporte financeiro para a realização da pesquisa, a Unicamp, o CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] nos possibilitaram elaborar a patente e também apoiaram a apresentação do trabalho em congressos científicos nacionais e internacionais", sublinha.
Publicações Tese: "Estudo da influência de aditivos naturais nos pontos de entupimento a frio, de turbidez e de fulgor de biodiesel e de misturas diesel-biodiesel"
|
---------------------------------------------------------------------------------------
Atendimento à Imprensa - ASCOM-Unicamp
---------------------------------------------------------------------------------------
Ronei Thezolin
- Jornalista / Assessor de Imprensa - Unicamp
(19) 3521 5111 / 5142 / 5145 / 5135
Facebook: Ronei Thezolin
Twitter: twitter.com/roneithezolin
Skype: thezolin.ronei
---------------------------------------------------------------------------------------
Patrícia Lauretti
- Jornalista / Assessor de Imprensa - Unicamp
(19) 3521-5142 / 5135/ 5145 / 5111
patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
---------------------------------------------------------------------------------------
Gabriela Villen
- Jornalista / Assessor de Imprensa - Unicamp
19-3521 5145 / 5142 / 5135 / 5111
gabriela.villen@reitoria.unicamp.br
---------------------------------------------------------------------------------------
Jornal da Unicamp: www.unicamp.br/ju
Siga o Jornal da Unicamp no Twitter: twitter.com/jornaldaunicamp
Agenda de Eventos: twitter.com/AgendaUnicamp
Portal da Unicamp: www.unicamp.br
Vestibular: www.comvest.unicamp.br
Editora da Unicamp: www.editora.unicamp.br
Biblioteca Digital: www.unicamp.br/bc
Unicamp - Universidade Estadual de Campinas
Assessoria de Comunicação e Imprensa (Ascom)
Cidade Universitária "Zeferino Vaz"
Barão Geraldo
Campinas - SP
CEP 13083-970
---------------------------------------------------------------------------------------
Nenhum comentário:
Postar um comentário